quinta-feira, julho 12, 2007

fortaleza

sentindo o cheiro da chuva durante a madrugada. às três da manhã, talvez não seja a melhor hora pra estar acordada. mas não resisto ao desejo de viver a noite de uma forma absurdamente simples. uns minutos de chuva forte, o suficiente pra acalmar. o silêncio. o desejo maior é de estar fora de casa, de andar pelas ruas vendo a calma ou o turbilhão que movimenta a noite. cada rua contaria um pequeno trecho do conto. seriam como personagens lapidando cada frase. quanto tempo preciso passar olhando pra essa cidade e escrever um pouco dela? as vezes o caminho mais longo é o melhor. talvez seja sempre. tem mais ruas e pessoas passando pela minha vista. e vou absorvendo tudo, cada cheiro, som, cada sensação. o vento forte quando chega perto da praia. uma rua daquelas mais altas e embaixo um pouco da praia da futuro, ambientada claro pelos contrates tão comuns por aqui, também. o olho se prende nas pequenas relações que passam pela janela, uma mãe que carrega o filho no colo ou o puxa pelo braço. as pessoas subindo as escadas de um pequeno (bem pequeno) "morro" pra chegar às suas casas, um cemitério... uma igreja na frente. no começo da beira mar. beira mar, cartão postal. onde o fluxo talvez seja de segunda a segunda. com pessoas correndo pelo calçadão, em meio a diversos estrangeiros, alguns que vem por um turismo não tão bom, nem sempre são as nossas praias que eles vem conhecer. beira mar, um lugar pra ser visto. como tantos. pena as paisagens as vezes camuflarem uma poluição e um desrespeito tão absurdo. passa por hoteis, de três, quatro estrelas. pelo aterro da praia de iracema. e um prédio, que não canso de observar. um prédio meio sem nexo, sem equilibrio, que surpreende, que tem beleza, apesar de não ser exatamente um lugar ideal pra se morar. podia ficar horas diante daquela fachada. vendo o movimento das pessoas entrando e saindo. convivendo mais de perto, propicia até à esbarrões. a multiplicidade que corre pelas ruas. que anda e se aproria de fortaleza como cenário. quero contar essas pequenas histórias. da convivência com esse espaço. com essas pessoas. que as vezes, anônimas, nem são vistas. talvez eu tenha conhecido, já há algum tempo, uma exceção.

3 comentários:

Anônimo disse...

a simplicidade tomou conta de mim quando li Fortaleza. A vida é recheada de imagens ricas como as do dia-a-dia, mas nem todos conseguem sentir. Sentir do que a vida eh feita, do que ela é estruturada, onde ela se apoia para demonstrar essa desigualdade, esse sobejo de miséria, esse turismo predatorio, essa ocupação desregradar do homem na natureza,essa devastação da natureza em nome da circulãção de dinheiro que hoje se perfaz nitidamente na destruição do Parque Ecológico do Cocó pelo o interesse de um grupo empresarial bastante conhecido em Fortaleza.
A simplicidade tomou conta de mim.
O que se deseja demonstrada com tantas Fachadas? com tantos desejos de riquezas? Sera que o homem naum percebe que existem outras pessoas ao seu redor ? Será que ele naum percebe que nascemos em função da natureza e morreremos em função dela ?

Anônimo disse...

Ao ler esse texto não tive como deixar de lembrar de um caminho, mesmo que contrário ao descrito por ele, que tantas vezes fiz ao pegar um ônibus saindo do dragão após ter assistido a um filme. maravilha.

Aquele prédio marca mesmo!

Alyson Lacerda

Fragmentos Repartidos disse...

O dia é bom para parar um pouco e observar todo o movimento ao nosso redor, todas as acções que não dão descanso ao nosso olhar nem ao nosso pensamento, dando-nos a cada instante um "fragmento" de uma vida, um momento de vida, mas é à noite que os nossos sentidos estão mais apurados para sentir, para digerir tudo o que foi absorvido durante o dia. É à noite, se quisermos, na calma da brisa, na possibilidade do silêncio, que podemos encontrar uma janela, um banco de jardim ou um muro de frente para o mar, ou mesmo de frente para uma "fachada" que nos guia, que podemos encontrar menos distrações e acabar de encher mais um pouco a nossa "caixa de vida" e organizá-la, preparar-nos para o despertar no dia seguinte e estar prontos para mais.

Gostei do teu texto. Da simplicidade e ao mesmo tempo riqueza encontrada num caminhar pela cidade.

Um abraço.