segunda-feira, dezembro 27, 2010

a espera

Arrepende-se. Não sabe bem de que. Mas, arrepende-se. Das coisas não ditas, do que falou. Das lágrimas, dos desabafos. Da fé que voltou a ter nas mudanças de alguém. Será que uma conversa tem uma força tão grande assim pra mudar comportamentos. Não sei. Espero que sim. Espero que as coisas sejam diferentes. Como sempre esperei. Espero ter dado a chance na hora certa. Espero que as boas semelhanças aflorem esses sentimentos bons de querer perto e de se deixar mudar. Por um tempo prolongado. Não somente pelos dias seguintes.

Acredita. Não sabe bem em que. Mas, acredita. Acredita nas palavras, nas lágrimas, nos sentimentos anunciados. Volta a acreditar que pode perdoar. Que pode voltar atrás, pra deixar um recomeço que está por vir. Espera. 
Espera. Cansada na porta de um prédio no qual nunca entrou, diante de prateleiras alheias de livros que quer ler. De discos que quer ouvir. Que lhe alimentam de lembranças, de futuras memórias. De coisas que ainda podem acontecer. Do desejo de aproveitar o tempo perdido. Espera. Mais uma vez. Espera. Deitada na cama de casa, odiando cada ligação não atendida e cada minuto além da hora marcada. 

Aprendeu a esperar. Se deixou enganar pela fé e por alguma esperança de que as pessoas podem gostar ou precisar dela. Enquanto isso. Mancha o travesseiro outra vez. Caem umas gotas salgadas. Sente. Sente cada um dos dias que perdeu. Cada uma das manhãs e tardes e noites em que se limitou a esperar. 

Volta a esperar. Com fé. Com amor. Com raiva, em menos de uma hora, todos os sentimentos se camuflam no sorriso que mostra ao sair. Não sorri por dentro. Não sorriu. Não sonhou mais. Deixou o corpo esperando. Como sempre.

caio f.

"Me entende, eu não quis, eu não quero, eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua mão, entende, por favor. Eu tenho medo, merda!Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fos...se e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto".
(caio fernando abreu)

quinta-feira, dezembro 16, 2010

[...]

traz a saudade pra perto. foi daquelas pessoas em que a falta às vezes significava mais que a presença. olhava nos olhos sim, mais que nos olhos do corpo. a alice que atravessou o espelho e esqueceu de voltar. gruda o corpo na porta de casa, tenta saltar da janela, consagra esses sentimentos estúpidos que a fazem correr mais rápido sem saber pra onde. esbarra em portas de vidro, atravessa paredes do quarto e fica flanando por entre seres estranhos que comungam de suas compulsões e vícios. não procura suas qualidades nos outros, valoriza os defeitos. absorve toda a insubordinação, toda a impulsividade, imaturidade seja o que for. de um segundo a outro transforma essa sensação estranha e restaura uma vida comum e cotidiana demais. 

sexta-feira, dezembro 10, 2010

caio f.

comecei a ler "para sempre teu, caio f.", sobre o escritor caio fernando abreu. tenho praticamente uma obsessão por biografias. uma leitura que corroí os sentimentos que ainda tenho, tenho vontade de conhecê-los, de imaginá-los, as vezes de ser como eles. quando não encontro tantas semelhanças, que quase imagino conversas e trocas, de cartas, sonhos...

ele me deixou assim. cheia dessa melancolia que não se guarda. me perguntando se alguma amizade, hoje, resiste à troca de cartas e sinceridade. tendo na escrita a maior paixão, o maior alivio e a maior angústia. a companheira que vai me sugando e alimentando ao mesmo tempo. não gosto de escrever, eu preciso. 

se guardar ou afogar a minha entre as linhas é suficiente eu descubro depois.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

histórias

guarda uma história no quarto. deixa as palavras vagando por lá. sonha com elas. infinitas frações de histórias. ainda não concluiu nenhuma. vai sentindo quase todas elas pairando sobre si enquanto dorme. diversas fontes, diversos sentimentos, diversos... sente o som das palavras vibrando ao pé do ouvido. se alimenta delas. quer torná-las personagens. aqueles todos que se assemelham a ela. vaga entre portas de pessoas estranhas, talvez um dia conheça uma delas em um café, partilhem o silêncio e guardem na memória uns olhares trocados, reciprocos... e uma, duas horas depois um sai pela porta e deixa um sorriso largado ao vento, de despedida. pode acreditar que o "destino" vai colocá-los de novo no mesmo lugar, que pode anotar o nome, endereço, telefone em uma página aleatória de um livro e ir embora deixando uma esperança meio solta de partilhar aquele silêncio outra vez, como naqueles filmes que até lhe fazem acreditar que as coincidências realmente tem algum sentido. pode tantas coisas. ali, parece que as imaginações viram lembranças, que as situações que cria foram realmente vividas. confunde os medos reais com o que pairam durante o sono. acorda num sobressalto. num susto de um lugar estranho, como se não reconhesse mais a pessoa que é, que foi... como se alguém pudesse mudar tão bruscamente, como se os sonhos alimentassem mais que a vida cheia de encontros, medos, paranoias, fases, ciclos. o que preenche esse espaço de tempo em que a gente vive afinal? será que é possível encontrar respostas tão coerentes e definitivas? 

[não]


percebeu outro dia que os sentimentos mudaram. que ela mudou. mais um personagem de passagem. buscando uma saída pra encontrar uma porta ou uma janela nova. cheia de vontades, de recomeços, de uma luz estranha que tem bastado. os tempos largados divagando sobre aquele futuro que é, necesariamente, incerto. melhor que seja. cansou das certezas. da vida prática. vai indo pelos caminhos dificeis, deixando algumas pessoas pelo caminho, talvez. você muda, ela muda. quando se dá conta, já nem lembra de quem tanto gosta. ficam lembranças... ficam. não sei se saudade. mas a lembrança ninguém pode lhe tirar. 

se é pra se dar conta de que o tempo passa, melhor começar a viver. perseguindo aquelas coisas que lhe deixam um sorriso involuntário no rosto. que deixa escorrer uma lágrima. aqueles que emocionam sem falar. 

[a essa hora, melhor deixar o copo e o cinzeiro de lado um pouco e começar a dormir. a noite é cheia de palavras que pairam]

ciclos

fechando um ciclo, acho. encontrando e reencontrando algumas pessoas. fortalecendo certos laços. aprendendo, no minimo tentando aprender. cheia de coisas e percepções a serem avaliadas, vontade de ler, ver e ouvir milhões de livros, filmes e músicas. será que o tempo se altera depois dessa "fase"? vou descobrindo, de certa forma, um caminho novo. e sem a menor ideia de onde se pode chegar por ele.