segunda-feira, maio 31, 2010

ela

ela é diferente. de um jeito meio torto. se joga fácil, se rende. sem cuidados, sem controles. é distante.
passa o tempo contando a vida, abre o livro inteiro e deixa a história voar por aí. palavras descontroladas, frases de efeito sem filtros. sem cuidados. a unha vermelha descascando, o lápis manchando o olho.
ela deixou o corpo leve. que a paranóia dos outros fique longe. se te olham diferente deixa olhar. se faz coisas inaceitáveis deixa fazer. precisa fazer o que? ser diferente? agir diferente? fingir?

as pessoas ao redor olham sem calma. mais que observam, julgam. se me incomoda? as vezes. se me machuca? as vezes? mas essas são as que menos importam. tem melhores formas de se fazer um convite. tem reações mais cuidadosas. ela deseja mais que pode. fato. ela faz mais do que deve? não sei. os limites se guardam em outras pessoas. uma delas importava. em processo de deixar de importar.

só sei que ela pediu um tempo de calma. só sei que ela deixou de esperar pra viver.
só sei, que não vai se espelhar em ninguém. se quer saber... o tempo é pouco, a vida é curta. não espera mais tempo e salta do mais alto pra vida.

ela anda pela rua mais feliz. ela canta alto com os fones de ouvido. importa que a escutem. ela sabe o que faz bem. se outros sabem, deixa assim. fica perto. mais tempo perto. não deseja mais tocar, falar. mas tem a necessidade incrivel de ver. deixa passar longe. olha pelo canto do olho. fala mais do que devia. deixa uma ligação desnescesária contar do fim de semana. sem ele por perto. o outro lado da linha parecia estranho, parecia não conhecer. até a parte que lembra claro. o que falou? o que ouviu? realmente importa? importa que a mensagem não foi respondida. importa que não liga de volta. importa que passou. se ela quer ficar inventando desculpas pros outros... será que é a única a fazer isso? mas... mas... mas... quando alguém precisa de palavras explicitas... não adianta amenizar.

acaba-se.
começa.
finda-se.
sem esquecer.

possibilidade remota de tirar da cabeça. será?
a noite mais longa em uma distância próxima. será?

ela fica na cama. na casa. no trabalho. no tempo. na praia. há tempos sem ter sono. há tempos com a memória estranha. há tempos sem lembranças. conta alto a vida. escreve depois, pra um dia. quem sabe. talvez. ter o que lembrar. edita os fatos. edita os erros. o jeito estranho de cuidar de si mesma. cada vez mais explicito e incoerente. importa?

só se pode gostar dela. conhecendo seus defeitos. não se espera muito. não se cuida direito. não lembra os detalhes. tem preguiça por vezes. tem vicios extremos. ama demais. se apega demais. melhor apresentar-se.

sexta-feira, maio 28, 2010

equilibrio?

quanto mais se procura pior. acordando em cima da hora, andando sobre um fio. equilibrio só no sentido literal.

inacabadas

tem um pedaço solto de vida por aí. uns retalhos no chão, um copo quebrado, um cinzeiro cheio. muitos textos e livros pela mesa. a memória cheia. o pouco espaço. essa caleidoscópio confuso das coisas inacabadas. será que termina? será que começa?

olhando pelo canto. o sorriso escondido. que seja silêncio por mais tempo.
esses dias a vida tem passado devagar. sem direções precisas. importa?

segunda-feira, maio 24, 2010

sussurando

alguma expectativa? vai mentir que não. talvez seja hora de começar a seguir meus próprios conselhos. ou parar com essa hipocrisia idiota de se achar dona da razão e das idéias certas. pelo que eu tenho sentido talvez seja o oposto disso. se joga. pula. faz tudo o que quiser fazer. o que, de fato, quiser. não o que pode esquecer na manhã seguinte. se precisa controlar o corpo deixa a alma livre, aberta, ganhando espaço pelo mundo alheio. é fácil? difícil? que sentido esse tipo de limitação pode ter? é o que fica gritando dentro que uma hora se solta de si, se prende em outro. se quer fazer alguma coisa hoje. diz. se quer dizer que sente alguma coisa. faz. passa o tempo. passam as mágoas. passa a vida. passa o forte e volta o superficial. pelo caminho e pela experiência tenho perdido tempo. perdido o foco. perdido memória, lembrança, sentimento, opção, controle. o que pode mudar? me tranca em um lugar, sem porta, sem janela, no escuro limitado pela fresta, me deixa ver o lado de fora sem poder sair. me deixa sozinha. talvez assim eu desista das minhas escolhas. talvez assim eu escute os conselhos que eu não quero seguir. (não todos, alguns). faz o caminho oposto e me deixa assistir você se distanciar. fica longe. e canta no volume mais alto. eu guardo a voz na memória. e dentro. até que os poros se abrem e a reação se força a sair. é como uma metáfora. é como uma ironia. uma pessoa que se desliga deixando o mundo no superficial. quando passa por tantos o que justifica se ligar a um? qual é a estranha escolha do acaso que me faz lembrar só dele? o que mais se afasta? o que mais encanta?

descanso algum tempo. cansada de bater na porta trancada. cansada de tentar passar pela fresta. pelo menos a voz. cansada da ausência do mundo. e da companhia insuportável de mim mesma. o corpo suado, a boca seca. sussurando. pelos cantos como se alguém que não ver pudesse ouvir. quase ouço a resposta. quase ouço você.  e fico voltando. indo e voltando. de um lado pro outro. com o corpo cansado. com a cabeça doendo. tentando dormir pra começar a viver do lado de fora.

diferente

porque o gosto é diferente. porque o jeito é diferente. a voz mais suave. o desejo mais forte. quando encontra de um lado da rua. quando olha. pelo menos é a sensação que eu espero, que eu quero. do superficial pro absoluto. do vazio pro cheio. querendo encontrar e tocar outra vez. tem espaço pra isso? tem tempo pra mim? talvez eu consiga aprender a deixar a vida fluir sem ser à força. talvez eu consiga entender cada uma das limitações. o tempo não é o mesmo. o desejo não é o mesmo. talvez eu consiga. talvez eu queira esperar.

segunda-feira, maio 17, 2010

personagem


A personagem é de fato quem quer ser. Pelo menos por uma noite, extrapolando limites, indo aos extremos, excedendo. Na manhã do dia seguinte os excessos cometidos fazem diferença. Semana conturbada, se deixou fora de si por muito tempo. Entre mensagens, ligações e encontros desnecessários. Sem arrependimentos absurdos, quase não faz parte dela esse pedido insano de desculpas. Se quiser que queira assim. Será que tem certeza disso? Lapsos claros na memória, horas apagadas, sono insuficiente, dor de cabeça. Disfarça o tropeço público, perde a vergonha de sentar no bar e ficar sozinha. Hoje espera que o olhar tenha sido menos explicito do que lembra. O que descontrola alguém assim? Tem medo de abrir a vida, mas abre. Tem medo de falar alto, mas grita. Tem medo de olhar e falar, mas sente. Tranca o caos, guarda, e explode. Insuportável até para ela mesma. O cuidado anula um pouco a vida. E vai pelo meio das ruas, a hora que for, e vai por caminhos estranhos, como se a confiança, o excesso, o descaso... a protegesse. A vida está chamando agora. Precisa ser mais racional, sensata, até a loucura impõem seus limites. Por hora, senta diante da tela, se protege na personagem que só pensa que é. Enquanto esconde as imperfeições do corpo, dos desejos (nem sempre reais) do que precisa? Agora? Ver o céu. A dimensão dos sentimentos e a reação à eles não pode ser compreendida por aqui. As pessoas se protegem de modos diferentes. Tem medo de modos diferentes. Sentem de modos diferentes. Pena que esse modo pode ser insuportável para todos. Agora faz sentido. Como se convive com um personagem tão instável? Se alguém souber me conta. O sonho e o desejo se anulam. Deixa de achar possível uma mudança nos dias seguintes.

Depois da noite. Parece que o tempo passa devagar.  Alguma coisa errada, que não lembra. Acorda com o rosto marcado da noite mal dormida, com sobras de maquiagem nos olhos. Com vontades precipitadas. Com ações precipitadas. Mas será que as pessoas realmente devem se impor controle? Se quer ligar, se quer escrever, se quer tentar, desistir, lutar, sentir, fazer, gostar... que faça! Se as pessoas se importam com as reações, as vezes estranhas demais talvez (na verdade eu sei que são) pode pura e simplesmente ser a indicação que essa idéia de caminho era precipitada demais (errada). Os encontros são diferentes, os sentimentos nunca são claros assim. Sem paranóia, sem precipitações, sem excessos, sem confusão, sem caos, sem loucura (só por um tempo), me despeço. A vida segue, e por um tempo, tenho outras coisas a fazer.   

quinta-feira, maio 13, 2010

sozinha

senta mais perto, a mão aproxima devagar. não precisa falar. o som conta o início da história. que talvez comece só do lado dela. enquanto deixa ficar com o tempo, com a brisa. o vento que bate forte no rosto, que arrasta cinzas pra perto dos olhos força uns pensamentos e umas imagens inatingiveis.
 ficou sozinha esse tempo. conversas imaginárias e todo o resto só aqui. só dentro dela. pedindo calma, pedindo tempo. pedindo volta. volta que me impede. parece que o corpo sente, que falar é desnecessário. e quando se percebe o tempo da história passou, e todos deixaram passar. ao fim do dia, caminham para lados opostos, vidas opostas. não há mais encontro. nem sentido. a sensação passa em algum momento. e mais uma vez, alguém prende tudo no corpo, pior que isso. prende mais forte. os sentidos afloram. e a beleza transborna em um liquido salgado que cai dos olhos.  andam a distância, por caminhos paralelos. que acidente da mundo pode colocá-los no mesmo lugar?

planos

que passe rápido. da intensidade absurda começo a me fechar. como se dá um tempo de tudo? como me tranco em casa e fico mais comigo que com as outras pessoas? eu e um texto que tem que ser escrito. eu e planos, metas, sonhos que só dependem de mim.

quarta-feira, maio 12, 2010

a flor da pele

a flor da pele. além da conta. os poros se abrem. a voz sai mais alta. a respiração alterna entre uma lentidão extrema e ofegante. os sentimentos por todos se diluem e misturam e mesclam, ao ponto de já não conseguir identificar que sentimentos são e por quem. a pupila dilata no quarto a meia luz. espelhos em lugares certos. músicas boas, outras suportáveis. hoje as paredes não escutam enquanto eu falo cada vez mais alto. na iminência do grito. no sussuro de uma voz alheia à mim. já não reconheço a memória. sem lembranças de algumas noites. que não se superdimensione. que não se conheça tanto. tenho tido certo medo de conhecer, de deixar conhecer. frase, relativamente, estranha pra quem se adaptou a excluir certos filtros e deixar a vida ser contada aos quatro cantos.

quarta-feira, maio 05, 2010

ela, eu...

Guardava um pedaço do corpo. Tentava sentir o rosto, ouvir a voz. A vontade era aproximar o máximo possível. Eles se encontravam. De um modo aleatório, meio descrente de relacionamento. Só se viam, deixavam as mãos juntas, falavam, sorriam. Quase choravam quando necessário, pelo menos ela. Andando sozinha por ruas mais que conhecidas, cada trecho, cada esquina, cada bar... a memória não filtra. Mantêm preso cada detalhe. Cada palavra se nutre de um sentido absurdo. Ocasionalmente na mesma mesa, ela quase se apropria desse sentimento absurdo que impregna, que invade. Parece que todo o sentido está aqui, nessas poucas horas, nesses dias que eu fico vivendo ininterruptamente até agora. O eu se mistura ao ela. Parece que fica um medo de deixar reconhecível, de ficar claro demais cada um desses sentidos que transparece por aqui. Ele se consagra no suor, nas mãos frias, no nervosismo. As vezes eu acho que ficar longe, e se manter longe, é de fato a melhor alternativa.

Os olhos se abrem ao extremo. O ouvido apurado pra ouvir qualquer um dos sussurros. O nome se prende na memória. Em qualquer lugar que vá, parece o único. Talvez a lembrança tenha de fato o poder de eternizar as coisas.

Vou deixar o corpo fingir por mim. Enquanto eu conto aos poucos e sinto forte demais. Ela era puro medo, pura entrega. Deixava a liberdade extrema se infiltrar pelos poros. Como se cada letra gritasse. Pelo som calmo demais que segue por aqui. Se deixa ficar. Estar. Vai seguindo pela calmaria, se é que possível. Se é que ainda resta tempo. Tem o corpo marcado, a vida meio diluída. Só lembra de uns fragmentos, de uns trechos. Vai preenchendo as lacunas, construindo uma vida nova. Ela não era toda feita de boas histórias. E, aqui, vai tentando pelos dias, pelas horas, pelo tempo renovar o que resta.

O tempo não é preciso. A vida não foi perfeita.

Alterna sentimentos bons e ruins. Vai sonhando mais que sentindo mas, afinal, quem pode dizer que nos sonhos não se vive, não se sente? Pressente. Supõe. Constrói. E mantêm o não querer esquecer. Fica mais forte, o corpo preso à memória. Guarda, assim, os detalhes do que é possível. Se pode sonhar outra vez, que comece agora.

segunda-feira, maio 03, 2010

lembrança

eu te guardo. como uma fotografia que eu não tenho. como uma música que eu não fiz. vou te guardando perto sempre. na cabeceira da cama, ou na própria cama pra não me deixar esquecer. quem disse que é dificil esquecer? o dificil é querer esquecer. quero uma volta mais forte. umas sensações que me lembrem alguns dos muitos dias. lembro de uns detalhes e esqueço o relevante dia que a 'história' deixou de existir.

deixo pra lembrar dele depois. fica uma possibilidade de a memória voltar quando tocar de novo. quando sentir e ouvir outra vez. eu espero. assim como guardo, uma memória que ficou mais forte. uma que me deixa contar como parte de mim. porque é. parte. todo. vivendo por si, independente da vontade e do desejo. que é mais forte agora. foi mais forte ontem.

eu não apago. não quero. não deixo. não suporto.
prefiro te ter longe, do que não te ter. não importa o que seja. pode ser uma conversa mais demorada. uma lembrança mais presente. uma declaração mutua de saudade.

é bom ouvir a voz perto. tocar o rosto. e simplesmente lembrar.