sexta-feira, dezembro 29, 2006

toda nova

começo de um novo dia. o céu não está tão lindo quanto ontem. merecia umas nuvens, um tempo fechado. uma chuva forte. na beira da entrada, degraus. encosta o rosto na parede manchada, suja. roupas gastas. suor. o corpo sendo reconstruído. toda nova. nesse fim de ano. ao ponto de desejar qualquer mudança. ah como seria mudar dessa cidade?!! ir pra uma daquelas casas perdidas na estrada, na enconsta de "abismos", pendendo entre uma chuva e outra. cheia de alucinações. compra a passagem pro paraíso. será que algum lugar merece tanto? [...]

terça-feira, dezembro 26, 2006

eterno

o que se faz depois de abandonar o lugar mais tranquilo do mundo? as pedras da igreja. toda a calma das lápides. corre pela cidade sem ruas asfaltadas, sem luz em longos trechos. uma cachoeira sem água, a serra que foi secando ao longo do tempo. engenhos. canaviais. meu vô sentado na calçada, cadeiras de balanço esperando companhia. sempre chegam. portas abertas. casas coloridas, sem muros. chega a ser fascinante só observar. feira aos domingos. véspera de natal. festa no clube. missa lotada na igreja da sé. um mundo. daqueles difíceis de se ver. as telhas antigas. retratos pintados. no quintal, o jantar. vento forte, enche os olhos de poeira. chega a chorar. chega perto. como se todos o conhecessem e conhecem. pedem benção. a vista gasta mal reconhece. assim vive. tão pleno e lúcido. dias iguais. um bingo de fim de ano. o sino de cinco em cinco minutos anunciando horários. que todos seguem. anoitece, como se cada dia fosse o último. diz adeus. e sinto saber que nem tudo é eterno. talvez ali seja. dentro daqueles limites. que não precisam de muros. em que ainda sorriem e desejam bom dia uns pros outros. onde o dia realmente começa com o cantar do galo.
quando começa o dia? talvez às duas da manhã, quando se dá conta que tem algumas estrelas e casas além da janela do ônibus. sozinhas. existindo a beira da estrada. nascendo. entre um sono e outro, uma cidade e outra.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

basta observar

como em um canal obscuro informações se desenrolam. e há quem esteja lá pra observar os anéis a correr pelos dedos, o sol desfalecer no horizonte. há quem perceba o suor do nervosismo e o mágico acontecer de qualquer cena. -----[basta observar]----- dois homens sentados, meio distantes um do outro. imersos em uma multidão absurda pra uma quinta feira. sem conversas. sem perguntas. "- que horas são?" o tempo não importa quando todos já podem somente tirar telefones do bolso e conferir. não há mudança de temperatura que lhes valha o argumento. algo, como um clima, sugere o medo da pergunta. -----[passa alguém correndo, como um vendedor ambulante. os sons das moedas, guardadas no bolso, batento umas nas outras me tira a atenção por alguns segundos.]----- tempo suficiente pra um dos homens se distanciar. levanta e sai com uma pressa que surge subitamente. o outro ganha uma liberdade de espaço, talvez deitasse no banco se pudesse. despois de algum tempo descruza os braços. descansa do constrangimento anterior. talvez a minha observação o tenha surpreendido acompanhado. se esconde com a mão recostada ao queixo. se sente ameaçado, talvez. se protege, se reserva. cansa desse olhar frequente. levanta, muda de banco e se surpreende só.