terça-feira, fevereiro 24, 2009

asas

por esses dias tenho observado de longe a vida. como um peso nas mãos, que tenta imitar uma caneta que corre à distancia por várias histórias. passou horas... sentada diante do mundo, daquela janela vermelha aberta...um quadro de rua deserta e céu lindo. pairava uma imagem resistente, cheia de declarações, com medo, com gritos e versos presos na garganta. e tentou pular. acreditando ter asas. daquelas que tranpõem qualquer muro, qualquer medo. como se andasse numa estrada feita pros seus pés, com braços esperando pra segurá-la. talvez em algum momento... a sua história, o seu menino...aquele que corria de pés descalços, que via asas nas costas e pulava de tão alto, a puxassse pela mão outra vez. de uma forma tão simples, que bastava que a olhasse, bastava perceber aquele frágil olhar preso à ela ...como se olha pro mar...com fascinação, com desejos, por vezes com pudores, com amor... daquele frágil, que quebra com uma onda mais forte, que faz gritar insultos, que brande arrependimentos, daquele masi perfeito amor humano. não queria ser puxada pelas asas talvez. mas será que essa simplicidade de amor....não a deixaria somente observando na beira da duna, no alto...com asas nas costas...cortadas ou não. mas que a mantinham no chão. queria subir o mais alto... queria o mundo visto das alturas...queria o vento no rosto, a leveza... queria sua essência de volta. mas parece acostumar-se à vida vista pela janela vermelha da sala...o menino ainda dormindo! queria sentir o frescor da manhã sozinha... como se restaurasse o seu vôo... como se de uma caixa vazia fizesse brotar todos os seus sonhos guardados. não ouviria sequer um grito. a felicidade só a fazia explodir em sorrisos. tirou a caixa do armário velho. vestiu aquele vestido de menina...pôs uma flor do cabelo. e pela janela vermelha. daquele seu décimo andar. foi voar, com suas asas, com seus sonhos, pela última vez.
[27/02/2007]
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[continuação]
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ela lembrava da sua janela vermelha. nem sempre se dá conta de quanto tempo passou, mas seu rosto ainda está preso num porta-retrato da sala. pra algumas pessoas os sentimentos não passam. quando a vida é colorida a memória, a lembrançaé mais forte que o tempo. na exata hora em que a menina foi voar uma porta bateu. o menino de sono leve levantou. a janela vermelha aberta e asas no chão. quando se voa tanta coisa se torna dispensável. até esses sentimentos que pra algumas pessoas não passam. ele pegou o porta-retrato, tocou o rosto preso. e se deixou. por tantos dias dias, por tanto tempo. sentado no chão, na frente da janela. sem falar, sem chorar, como se no corpo o menino não vivesse mais.
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era um dia vivo. as sensações na rua eram as mais fortes. o sol batia nas folhas e tinha um verde de uma cor tão intensa que ninguém jamais vira. ele ouvia uma música ao pé do ouvido. como um sussuro, com a impregnante voz dela. ele sentia aquele cheiro doce preso nas paredes do apartamento. a vida parecia colorida agora. quando cada um podia amar a seu modo.
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via borboletas azuis, amarelas...entrando pela janela. e cada pensamento da menina voltava. lembrou dos seus sonhos. foi tocar as flores na varanda. e sentiu a pele dela em capa petala. as pessoas vão embora. mas ninguém aprende a se despedir. mas ninguém aprende a sonhar os seus próprios sonhos. são as imagens de outra pessoa que o impregnam. ele solta o rosto preso no porta-retrato num canto do sofá. e pensa. e tenta imaginar como se reaprende a sonhar.
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em algumas manhãs ela andava na areia. de vestido branco, como alguém pronta pra ser entregue. a vida numa caixa. o corpo solto. mas tudo o que quer, tudo o que sente está em uma caixa guardade num armário velho que viveu e viu mais que ela.
[24/02/2009]

passou

queria que alguém falasse por mim. que alguém chegasse sufientemente perto pra sentir até a respiração. que andasse do meu lado sem que eu percebesse. que sentisse o toque sem jamais tocar. é no sonho da vida. nos minutos antes de conseguir dormir, vendo albuns de fotos, lendo cartas, vendo cartões postais, ouvindo música... é quando percebe como quer que a vida seja.
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se quer falar comigo. se quer falar o meu nome. antes de qualquer coisa: olhe pra mim.
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agora, definitivamente passou. o que fica? uma certa repugnância, um certo pesar. e perder algumas pessoas. nenhuma coisa termina sem que se perca algo. se tenho que perder. que seja.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

mãos livres

partes de uma história inventada. que não precisa ser fiel, compreensível ou crível. são só partes. que tentam completar alguns dias. que tentam ser vividos. que tentar se fazer notar. de certa forma assim como eu. estou num lugar onde a vida parece mais bonita, num segundo andar de uma livraria, janelas e cortinas lindas, mesas e cadeiras de madeira, poucas pessoas, um fanzine nas mãos, uma coca, tudo enquanto eu espero, tudo enquanto eu sinto. umas partes de algumas pessoas me compondo. me criando. me inventando. sou a criação de alguém. talvez não seja tão original ser criação minha. rompendo com algumas idéias. me aproximando de outras. a vida tem a traiçoeira e incrível tendência a nos surpreender. com os meus pedaços refeitos e unidos. com as mãos livres. com a imagem do que foi começando a diluir. sem direções certas. a vida sendo composta no caminho, com as pessoas e oportunidades que surgem. não sou tão cheia de rabiscos e traços mal acabados. são frases completas por dia, de sensações, de momentos extremos, da minha descontinua autodefinição. os espelhos vão perdendo a referência, o reflexo sendo dispensável. porque olho pra mim, pras minhas mãos livres... e vou percebendo por partes a ilusão do corpo, da necessidade, da obsessão. e vou diluindo outra vez. entre traços, entre frases, entre olhos, entre mãos... até que só restam fagulhas de mim.

sábado, fevereiro 07, 2009

recuperada (pelo menos é como me sinto agora). livre pra vida. e feliz (por mais incrivel que pareça).