quarta-feira, setembro 16, 2009

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passado... é onde tenta afundar o corpo quando se joga na cama. deixa o colchão ser moldado pelo corpo onde passa o dia. passa o tempo assim, no colchão, no corpo... e não há quem interfira, telefones desligados, portas trancadas, tudo o que precisa é lembrar. ele que vá embora. já deixou tudo, todos os dias já pertencem a ela. a voz, o rosto já estão fixos, a presença se torna desnecessária. é essa a alice do reflexo, de olhos inchados cansados de tanto dormir. é pra ela que canta, pra ela que escreve. é o que a faz lembrar. o papel gasto se perde, os sonhos não. e sonha o passado. vai lapidando os dias enquanto se olha no espelho. veste as melhores roupas, arruma o cabelo, tem unhas e boca vermelhas. dentro do quarto, pelo reflexo, deixa a memória lhe fazer companhia. abraça, mexe no cabelo, ouve a voz dele em uma longa conversa, a noite chega, a madrugada adentro... e vai sorrindo pela boca, pelos olhos. até que dorme, com o cheiro guardado, com o corpo guardado moldando o colchão enquanto amanhece. e é dessas manhãs... mais bonitas que outras... mais felizes que outras... no sonho acordado em que se permite viver.

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