domingo, setembro 28, 2008

tantas


de um modo estranho percebo minha vida vida se escrever pelas mãos de outra pessoa. não que eu tenha conhecido ou vindo de qualquer lugar maravilhoso perdido às margens dos meus pensamentos estranhos. mas é como se pra escrever, até mesmo minha própria história, tenha que me separar dos sentimentos e criar a personagem de uma personagem, a personagem que escreve, que cria, que voluntariamente vai contar a história, ou um trecho dela, da vida entediante de uma face de si mesma.
ainda que tenha um outro nome, ainda que tenha um outro rosto, precisou imaginá-la para escrevê-la, precisou ser ela. seja nas imagens que construiu, nas cenas sóbrias, nos diálogos frágeis, nas ilusões constantes. ela foi escrita para ser eu. talvez aprimorada, ou com um nome que eu queria ter. o mundo de ficções se suspende. porque não há um traço que separa tão linearmente essa história. os sentimentos e as percepções não são mentirosos, são histórias imaginadas do que poderia ser. o mundo se constrói e se lapida por atitudes indecifráveis e surpreendentes, não posso expressá-las sem vê-las, sem sentí-las de algum modo. e imaginar, e escrever me faz sentir.
que eu seja um personagem meu. e que me veja à distância, na cabeceira da cama, escrevendo um conto sobre o meu dia. no final de tudo o que importa é o prazer de lê-lo. a consistência de uma imagem transcrita em palavras. uma imagem que pode ser tantas. que pode até mesmo ser eu.
[20.04.2008]

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