por um segundo pensou em desvencilhar-se de tantos aneis, soltou-os pelo bolso da calça. quase puxando-os de volta na verdade. como ao sair de casa, punha a aliança no porta-luvas do carro, pensando na necessidade de correr até ele qualquer emergência. havia esquecido um remédio, uma pasta, documento, talvez. que importa. sempre lhe voltam os problemas. sempre lhe voltam os meios. um daqueles que lhe coloca a frente toda a fúria. sequer grita o seu "bom dia". sequer tem tempo de bater a porta. julga paredes, copos, pratos e portas...ah, principalmente portas. culpados! são eles, claro, não seria a mulher que amou e guardou e protegeu a vida toda. e não seria ele (ele que não!), aquele poço de compreensão e afeto. nada significava 'guardar' a aliança no porta-luvas do carro, que poderia significar? seu dedo já dolorido de tantos anos. pedia descando por algumas horas. claro, além da porta de casa. além da vista da mulher. diante dela, o mundo rejuvenescia, de certa forma não se pode negar. trazia de volta a obidiência, o medo, o ódio...
" pois não?"
"sim senhora!"
" pois não?"
"sim senhora!"