guarda uma história no quarto. deixa as palavras vagando por lá. sonha com elas. infinitas frações de histórias. ainda não concluiu nenhuma. vai sentindo quase todas elas pairando sobre si enquanto dorme. diversas fontes, diversos sentimentos, diversos... sente o som das palavras vibrando ao pé do ouvido. se alimenta delas. quer torná-las personagens. aqueles todos que se assemelham a ela. vaga entre portas de pessoas estranhas, talvez um dia conheça uma delas em um café, partilhem o silêncio e guardem na memória uns olhares trocados, reciprocos... e uma, duas horas depois um sai pela porta e deixa um sorriso largado ao vento, de despedida. pode acreditar que o "destino" vai colocá-los de novo no mesmo lugar, que pode anotar o nome, endereço, telefone em uma página aleatória de um livro e ir embora deixando uma esperança meio solta de partilhar aquele silêncio outra vez, como naqueles filmes que até lhe fazem acreditar que as coincidências realmente tem algum sentido. pode tantas coisas. ali, parece que as imaginações viram lembranças, que as situações que cria foram realmente vividas. confunde os medos reais com o que pairam durante o sono. acorda num sobressalto. num susto de um lugar estranho, como se não reconhesse mais a pessoa que é, que foi... como se alguém pudesse mudar tão bruscamente, como se os sonhos alimentassem mais que a vida cheia de encontros, medos, paranoias, fases, ciclos. o que preenche esse espaço de tempo em que a gente vive afinal? será que é possível encontrar respostas tão coerentes e definitivas?
[não]
percebeu outro dia que os sentimentos mudaram. que ela mudou. mais um personagem de passagem. buscando uma saída pra encontrar uma porta ou uma janela nova. cheia de vontades, de recomeços, de uma luz estranha que tem bastado. os tempos largados divagando sobre aquele futuro que é, necesariamente, incerto. melhor que seja. cansou das certezas. da vida prática. vai indo pelos caminhos dificeis, deixando algumas pessoas pelo caminho, talvez. você muda, ela muda. quando se dá conta, já nem lembra de quem tanto gosta. ficam lembranças... ficam. não sei se saudade. mas a lembrança ninguém pode lhe tirar.
se é pra se dar conta de que o tempo passa, melhor começar a viver. perseguindo aquelas coisas que lhe deixam um sorriso involuntário no rosto. que deixa escorrer uma lágrima. aqueles que emocionam sem falar.
[a essa hora, melhor deixar o copo e o cinzeiro de lado um pouco e começar a dormir. a noite é cheia de palavras que pairam]